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Onde vivem as decisões?

PARTE 1 Donato passou a língua na ponta dos lábios, o gosto áspero de lápis mastigado fazia com que pensasse em pegar a terceira cerveja, mas o sino na igreja badalava quatro da manhã.    Era tarde! Ou era cedo?    Colocou os cotovelos sobre a mesa, apoiou a cabeça nas mãos e debruçou o corpo para frente, assim os olhos ficaram bem próximos da folha sulfite, apenas três linhas preenchidas em cada coluna e as cores fortes do giz de cera da sobrinha que após alguns rabiscos desistira do desenho e abandonara a folha no chão.    Onde vivem as decisões?    Ele não sabia. Pegou a folha do chão quando pisou em cima dela ao sair do quarto, ainda era uma da manhã, não tinha encarado o acontecimento como uma insônia, só deitou e não conseguindo dormir levantou, caminhou pela casa, foi no banheiro, e depois resolveu abrir a primeira latinha, sentou na mesa e colocou a folha na sua frente.    Foi depois de uma hora que entendeu que não conseguiria voltar a dormir, as vozes das pessoas habitavam a

Rascunho de uma história infantil e/ou Desejos de Teresa

  Meu desejo é que este texto seja ilustrado.   Ao ler, por favor, tenha a imaginação de uma menina de seis anos.   Teresa fechou bem os olhos e pensou o que desejaria.   Não era seu aniversário e ninguém tinha lhe concedido um desejo. Apenas se pegou pensando no que mais queria no mundo. E se apegou a pensar do jeito mais livre, não ter motivo nenhum para pensar.   Ficou confusa sobre o assunto.    Primeiro pensou em ser fogo. Em como seria bonito ser cor de laranja-vermelho e quanto seria divertido derreter coisas envolvidas em labaredas de muitos graus. Mas teve medo de queimar pessoas, plantas e animais. Então, desistiu de ser fogo. Pensou que poderia ser vento e conhecer o mundo em viagens maravilhosas que faria com fantástica rapidez e também em como ajudaria as flores e os frutos a espalharem seu pólen. Mas teve medo de ser lenta e virar ar em alguma cidade distante e poluída. Então, desistiu de ser vento.   Teresa resolveu abrir os olhos e tentar ver se à sua volta estava o que

ATO 2 - A MORTE

Entrou, já sem ar, o quarto pequeno. Fechou a janela, um estouro seco. Apagou a luz, deitou encolhido na cama. Não queria respirar. Que o ar se fosse mesmo, era o melhor. Encolheria mais. Queria ser menor para caber dentro de si. Pensou em tirar o sangue. Por que não as tripas? Os órgãos todos! Respirou Ar e poeira. Tosses. Só o ar. Precisava tirar só o ar. Só o que era impalpável lhe fazia mal.

ATO 1 – A Louca

Tua vibração pulsa, percorre o chão é absorvida pelas papilas das plantas dos pés. Os tambores temperam a carne, amaciam no balanço. Não é perfume de butique é nosso cheiro de suor movimento. Desfila. Desfila sim. Olha nos olhos estranhos que te encontram. Canta com a boca dos outros, a saliva coletiva derrete os pudores. No balance dos jogos de ritmo improvisado, é calor, meu corpo derretendo em gostos, tua língua refrescando os desejos. Nas voltas das bundas, dos nossos braços, no meio da multidão de olhos sorrisos, a gente. Ao som do surdo, do toque crescendo embalando corações, teu compasso firmando minha composição. Não é procura é encontro, boca sem dizeres. Achamo-nos.  

#AOAMOR

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Juras

Trocaram olhares, mas eram promessas, não as mesmas, não se conheciam. As palavras eram futuro. Juras do que já desejavam, do que traziam no coração, dos corpos se aquecendo...

Acordares - 16h00

Foi tempo passando por todos os lados. Acordou quatro da tarde. Dormiu de olhos abertos de sonhos guardados. Ao invés do escuro da mente o branco do teto. Tantas voltas na cabeça e um tum no coração. Ficava olhando o balançar do peito arfando. Da mente girando Das pernas trançando. Olhando as grades que cortavam a janela. Partindo o sol Só.